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sábado, 15 de outubro de 2011

Pra sonhar


"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas
palavras. Ela me perfumava, me iluminava ... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe
adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores ! Mas eu
era jovem demais para saber amar.

...
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda.
Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era
uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo.
Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa,
sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é,
porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a
redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto
duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou
mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o
coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável
pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar.

[O pequeno príncipe] 
"Que a chuva caia como uma luva 
um diluvio um delírio
QUE A CHUVA TRAGA ALIVIO IMEDIATO
Que a noite caia de repente caia 
tão demente quanto um raio
QUE A NOITE TRAGA ALIVIO IMEDIATO"

[Engenheiros do Hawaii]





quinta-feira, 13 de outubro de 2011



Não é verdade que as pessoas se repitam. O que se repetem são as situações, inúmeras vezes - e você sabe que qualquer situação que nos acontece é por nossa culpa. Principalmente quando ela se repete muitas vezes. Tudo o que acontece à gente é uma mera consequência daquilo que se fez.  
                                                             
                                                               Caio Fernando Abreu in "Cartas "


"Há quem diga que quem anda só é melhor 
do que ao lado de quem não te quer bem 

O meu coração está cansado de ser torturado e precisa de alguém...
Vou tomar o caminho mais reto, 
vou seguir direto até onde eu quiser...

Veja só, eu podia estar ao seu lado
mas não deu, e eu não vou ficar aqui parado...
Tô indo pra onde haja sol, 
pois o meu coração é meu lar
se você quiser ir, pode vir já guardei seu lugar... "




quarta-feira, 12 de outubro de 2011


"Pequenos...
Nossos emissários para o futuro desse mundo de Deus 
Pequenos...
Espíritos de luz enviados pelo céu para reinarem na terra
Aprende conosco o sentido das coisas 
Ouvem de nós o que é certo e o que é errado 
Flutuam entre nós com a fome do querer, com a gana do saber
Pequenos...
Tanto a aprender nós é que temos com eles
temos que ouvi-los, senti-los, entendê-los no seu amor maior, Puro, Cristalino
Pequenas Crianças
que enchem as nossas vidas em todos os sentidos com a graça de Deus 
seus olhinhos as vezes nos dizem que esse mundo será deles
que não vale a pena destruí-lo por nada 
que todos eles 
esses pequenos
governarão essa terra 
Que hoje nos abriga
e nós não estaremos mais aqui
Criança 
Uma luz de esperança
Um brilho de pureza 
Uma voz que grita para os nossos corações que eles estão aqui
e que precisamos aprender com eles 
mais do que eles conosco
Pequenos...
A Perpetuação do homem, um presente divino, criança.... "

[Autor desconhecido]

terça-feira, 11 de outubro de 2011

"Tua Palavra, Tua história 
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar 

Metade de mim agora é assim 
De um lado a poesia o Verbo a Saudade 
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
e o fim é belo incerto...Depende de como você vê"



segunda-feira, 10 de outubro de 2011


Meu caminho é feito de uma alma com pés valentes, mesmo quando cansados arriscam mais um passo. É essa doce valentia que me trouxe até aqui.
Ana Jácomo

sábado, 8 de outubro de 2011

AUTO-REENCONTRO



Eu vim aqui me buscar. E aqui parecia ser longe, muito longe do lugar onde eu estava, o medo costuma ver as distâncias com lente de aumento. Vim aqui me buscar porque a insatisfação me perguntava incontáveis vezes o que eu iria fazer para transformá-la e chegou um momento em que eu não consegui mais lhe dizer simplesmente que eu não sabia. Vim aqui me buscar porque cansei de fazer de conta que eu não tinha nenhuma responsabilidade com relação ao padrão repetitivo da maioria das circunstâncias difíceis que eu vivenciava. Vim aqui me buscar porque a vida se tornou tediosa demais. Opaca demais. Cansativa demais. Encolhida.
Vim aqui me buscar porque, para onde quer que eu olhasse, eu não me encontrava. Porque sentia uma saudade tão grande que chegava a doer e, embora persistisse em acreditar que ela reclamava de outras ausências, a verdade é que o tempo inteirinho ela falava da minha falta de mim. Vim aqui me buscar porque percebi que estava muito distante e que a prioridade era eu me trazer de volta. Isso, se quisesse experimentar contentamento. Se quisesse criar espaço, depois de tanto aperto. Se quisesse sentir o conforto bom da leveza, depois de tanto peso suportado. Se quisesse crescer no amor.

Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez. Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo.

                                                                               [Ana Jácomo] 

Anjos



...O homem precisaria também de anjos que fossem visíveis. Feitos da mesma matéria que ele. Com os quais pudesse brincar com os brinquedos humanos. Crescer junto, aprendendo, ensinando, trocando. Que os olhassem nos olhos e o encorajassem ao próximo passo às vezes sem uma única palavra. Com os quais pudesse compartilhar os sabores, os sons, as visões, as falas e as texturas das coisas da Terra e sonhar com as coisas do céu. Que estivessem ao seu lado nos dias de sol e também lhe estendessem a mão para atravessar com ele o tempo em que as noites se fariam tão escuras que ele começaria a duvidar do amanhecer.

Sim, continuava a pensar o Senhor Deus, o homem precisaria de anjos visíveis que tivessem em sua vida a mesma bela tarefa do anjo que não podia ver. Anjos que permanecessem em seu caminho quando tudo parecesse ter ido embora. Que acreditassem nele até quando ele próprio se esquecesse quem era. Que quando o cansaço lhe visitasse e os apelos da sombra o convidassem a desistir soubessem como fazer para que lembrasse da própria coragem. Que emanassem para ele um bem-querer tão puro que fosse capaz de perfumar até o que ainda lhe doesse. Com os quais pudesse rir e chorar, e, sobretudo, ter a liberdade de ser.

O homem precisaria, sim, de anjos visíveis com sangue nas veias. Que tivessem dor de barriga, mau humor, contas pra pagar, unha encravada, medo, dente de siso para extrair, angústia, raiva, baixo astral, e toda uma séria de chatices humanas que os anjos invisíveis respeitam, mas não experimentam. Com os quais pudesse jogar conversa fora. Torcer por um time. Cantar desafinado. Caminhar na praia. Trocar um abraço. Empanturrar-se de risada e bobó de camarão num domingo grande. Que espelhassem para ele sua porção humana e sua porção divina e lhes fizessem parceria no contínuo exercício de integrá-las durante a viagem. Que pudessem servir de canais para os toques, os puxões de orelha e os carinhos do seu próprio anjo guardião, que, sem fazer ruído algum, trabalharia em sintonia com eles o tempo todo.

E depois de dividir com aquele anjo inspirador as feições de sua descoberta, contam que o Senhor Deus Todo Poderoso lhe perguntou o seu nome, pois seria com ele que, em gratidão, chamaria o anjo visível que cada pessoa encontraria na Terra.

E o anjo que inspirou o Senhor Deus, maravilhado com sua bondade, revelou-lhe o seu nome:

"Amigo"


                                                      [Ana Jácomo]